Meu vilão favorito: Uma análise do fascínio humano pelos personagens malvados

Desde a antiguidade, o conflito entre bem e mal tem sido um tema recorrente na literatura e no cinema. Embora a maioria das histórias tenha um herói, é comum o fascínio pelo vilão – aquele personagem que comete atos repulsivos e desrespeita as normas sociais. Mas o que nos faz gostar deles? Por que é tão difícil resistir ao charme de um malfeitor?

Um dos motivos mais óbvios é que os vilões são frequentemente retratados como arrogantes, corajosos e poderosos. Darnell Hunt, professor de sociologia da Universidade da Califórnia, descreveu os personagens como “sobreviventes do mais malvado”, capazes de transgredir as regras da sociedade de uma forma que muitas vezes é proibida aos demais. Eles são carismáticos, impiedosos e muitas vezes conseguem tudo o que querem – incluindo o coração do público.

Outra explicação pode ser encontrada nas teorias da psicologia social. De acordo com Martin Graff, pesquisador em psicologia social na Universidade de Glamorgan, os vilões são atraentes porque representam um desvio da norma, e nós, humanos, temos uma tendência natural para desafiar as expectativas. “Os vilões desafiam a noção de moralidade e legalidade, que muitas vezes nos impede de fazer o que queremos”, explica Graff. “Eles estão dispostos a assumir riscos e transgredir as regras, o que pode ser liberador”.

Outro fator pode ser o fato de que os vilões são frequentemente retratados como personagens complexos, com suas próprias motivações e agendas. Eles têm cicatrizes mentais e emocionais que os humanizam, tornando o público mais capaz de se identificar com eles. O vilão de O Senhor dos Anéis, Gollum, é um exemplo da profundidade que pode ser alcançada em personagens malvados. Ele é um ser humanoide viciado em um anel, lembrando-nos das imperfeições que todos possuímos.

Mais recentemente, vimos uma mudança de atitude em relação aos vilões. Algumas histórias, como ‘Breaking Bad’ ou ‘Coringa’, tentam oferecer uma compreensão de seus personagens malvados, para que o público possa entender a motivação e o ponto de vista daqueles que são considerados maus. Além disso, alguns vilões estão começando a assumir papéis de protagonistas em si mesmo, como protagonistas ou anti-heróis – como é o caso de Walter White, de ‘Breaking Bad’, ou Frank Underwood, de ‘House of Cards’.

Embora a maioria das pessoas não queira ser associada a um vilão da vida real, é inegável que esses personagens têm uma atração que não pode ser ignorada. Sua coragem, audácia, poder e complexidade os tornam fascinantes e envolventes, independentemente das suas escolhas morais. E, talvez, precisemos de mais vilões em nossas vidas para ficarmos mais conscientes dos nossos próprios valores, quando vistos através de sua perspectiva.